Roberto Bazanini nasceu no bairro do Tucuruvi, em São Paulo. Descendente de italianos, começou trabalhando de carteiro até estudar Filosofia, pela paixão pelos textos de Shakespeare, e Administração na USCS. Foi professor na Metodista. Atualmente é professor de graduação e MBAs da USCS e professor de graduação, professor e pesquisador em Administração Strictu Sensu da UNIP. |
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Pergunta:
Gostaria que você começasse falando sua data de nascimento e seu local de nascimento.
Resposta:
Isso. Eu nasci no dia 10 de maio de 1952. E nasci no Tucuruvi, um bairro aqui de São Paulo.
Pergunta:
E como era sua família ali no bairro do Tucuruvi. Seu pai, sua mãe...
Resposta:
Olha, o meu pai junto da minha mãe eram pessoas bem humildes né, os dois já são falecidos. O meu pai era operário, trabalhou muitos anos na Nestle e minha mãe era do lar. Eu morei no Tucuruvi, assim, até os dois anos, do meu nascimento até os dois anos, quer dizer, nasci no Tucuruvi no Hospital Santo Antônio e morava na Parada Inglesa. Aí aos dois anos de idade, assim, nós viemos morar aqui na Vila Califórnia que é divisa de São Caetano do Sul. E aí toda a minha infância, toda a minha juventude até eu me casar foi na Vila Califórnia. Aí depois de casado me mudei para São Caetano, e resíduo em São Caetano até hoje.
Pergunta:
Ô Bazanini, e... (...) O que o seu pai fazia na Nestle?
Resposta:
(...) Eu sei que era um operário sem especialização. Ele era quase que um ajudante de produção né. Ele tinha só a terceira série do primário, nunca estudou. Essa minha mãe também era praticamente analfabeta né. E os filhos é que gostavam de estudar, tanto eu quanto o meu irmão.
Pergunta:
Vocês... dois filhos...
Resposta:
Dois filhos.
Pergunta:
Hum.
Resposta:
Eu tenho um irmão que é um ano e sete meses mais velho que eu né. E nós desde que ingressamos assim na escola, gostávamos de estudar. E um fato interessante, quando... assim, quando eu entrei na universidade né, então se tinha vários livros. Você tinha que comprar vários livros, que era uma época diferente né, assim, nos anos setenta. Você comprava livros para cada disciplina, e a minha mãe me disse uma vez: ‘Olha, um livro só não chega? Pra quê lê tanto livro?' Exatamente porque ela não tinha nenhuma... (...) nenhuma ligação, nenhuma cultura assim né...
Pergunta:
Você falou que eles eram descendentes de italiano. Como que era essa cultura italiana na família?
Resposta:
Então, era descendente de italiano daqueles italianos bem tradicionais. O que seria? Seria aquele italiano bem tradicional. A importância pra família, o meu pai e a minha mãe dava máxima importância pra família. Era uma vida assim de... assim de pobreza, até com dificuldades, mas com aquela... assim, com aquela ideia de quê, de honestidade, de integridade, foi isso que os pais nos deixaram.
Pergunta:
E os seus pais se mudaram aqui pra Vila Califórnia né, porque é bem distante Tucuruvi daqui, são regiões bem distantes. Por que motivo?
Resposta:
É porque eles não tinham casa, eles pagavam aluguel. E eles decidiram comprar uma casa para se livrar do aluguel. Na época na Vila Califórnia nem rua existia, era um morro que tinha pro meio da rua né. E foi o único lugar que eles conseguiram comprar casa, era uma... (...) assim, um amigo do meu pai, que tinha um terreno aqui na Vila Califórnia que queria vender. Eles trabalhavam juntos na Nestle. Aí meu pai comprou e era uma época que na Vila Califórnia não tinha nada, tinha uma pedreira em frente onde se estourava pedra que é do grupo Votorantim, depois a Vila Califórnia foi melhorando, melhorando, mas no início não tinha luz, não tinha nada na casa.
Pergunta:
O seu pai continuou trabalhando na Nestle do Tucuruvi?
Resposta:
É... isso, só que a Nestle não ficava no Tucuruvi, a Nestle ficava aqui na Mooca né. Era na rua Ipanema na Mooca. Aí nessa dificuldade do meu pai de ir trabalhar é que na Califórnia não tinha ônibus, ele tinha que vir a pé até São Caetano pra pegar o ônibus lá pro trabalho dele que era na Mooca.
Pergunta:
Ônibus ou trem?
Resposta:
Era mais o ônibus, às vezes o trem, tinha as duas opções, tinha tanto trem quanto ônibus.
Pergunta:
E era comum morar na Vila Califórnia e fazer as coisas em São Caetano: compras, escola, lazer...
Resposta:
Sim, porque São Caetano era bem mais desenvolvido né. São Caetano desde a fundação sempre, tudo que a gente tinha que fazer, assim, tinha que vir para São Caetano. Se tinha que pagar conta no banco, que na época se pagava conta em banco, conta de luz, conta de água, era tudo em São Caetano do Sul. [5']
Pergunta:
E o lazer também?
Resposta:
Tudo. Tudo que você queria se tinha que vir para São Caetano, porque nessa Vila Califórnia, embora muito próxima de São Caetano, o que ela tinha? Não tinha nada. Ela tinha o quê? Uma vendinha, tinha farmácia, mas não tinha mais nada, era em São Caetano que você comprava tudo.
Pergunta:
E Bazanini, assim, tem a divisa e tem o rio Tamanduateí, é onde a avenida do Estado hoje não é.
Resposta:
Sim.
Pergunta:
Ali enchia, vocês tinham que atravessar a pé, como era isso aí...
Resposta:
O grande problema era esse né, embora lá na Vila Califórnia a gente morava na parte alta, aliás a gente morava, meu irmão ainda mora lá na mesma casa né, era parte alta. Quando você vinha pra São Caetano, o Tamanduateí fazia divisa com o bairro Fundação, aí no caso a coisa era grave. O caso de enchentes graves, bairro Prosperidade e bairro Fundação, ali era uma tragédia. Lá onde a gente morava, ali na rua Mata Machado é um lado bem alto, quando você sai da Tamanduateí, você sai _____ subida. Lá não tinha problema de enchentes.
Pergunta:
E as brincadeiras ali na... nessa casa.
Resposta:
Ah... às brincadeiras eram às mais... às mais simples possíveis, como na época era um bairro muito pobre, o que tinha: jogo de bolinha de gude, jogo de futebol, rodar peão e soltar pipa. Era só isso que a gente tinha. E lá a gente não tinha aquela ideia, por exemplo, que aqui em São Caetano já era um pouquinho mais desenvolvido. O pessoal de São Caetano aqui, já tinha uma vida um pouco melhor. A vida na Califórnia ali, eu acho que o bairro se desenvolveu por causa disso, era do pessoal que trabalhava nas empresas de São Caetano como: General Motors, Aços Villares, _______. É por isso que a Califórnia se desenvolveu, era um pessoal bem humilde.
Pergunta:
Ainda tinha a Matarazzo ali?
Resposta:
Tinha também o Matarazzo, tinha a Cerâmica, tinha o Aços Villares, _______. A Vila Califórnia, ela se desenvolveu em função dessas industrias, eram todos operários daqui de São Caetano do Sul.
Pergunta:
E a escola? Que escola você estudou...
Resposta:
Então... a escola inicialmente era um grupo de madeira ali na Vila Califórnia né que... a Vila Califórnia é próxima da Vila Alpina. Então se iniciou por um grupo de madeira aí no Brisabella Almeida Nobre que era uma escola de madeira, aí construíram uma escola de alvenaria, e eu fiz lá tanto o primeiro quanto o segundo grau.
Pergunta:
Você lembra de alguma professora...
Resposta:
Ah, lembro de várias professoras. Eram muito autoritárias como era próprio da época. Eu me lembro de professores assim, por exemplo, muito de castigo. O castigo na época, até os pais diziam: ‘Olha, você pode fazer... você pode castigar se ele não fizer.' Os pais davam ordens na época pros professores colocarem a gente de castigo. Eu tive um professor que me punha de castigo direto né, mas punha de castigo porque você conversava com o colega, punha de castigo porque você olhava pra trás. Era uma escola, assim, bem autoritária, embora fosse uma escola que você... que a gente aprendia, ao mesmo tempo era super autoritária...
Pergunta:
E do ensino assim... do que você lembra, tinha na época ainda disciplinas de latim ou coisa assim.
Resposta:
Não, então... às disciplinas que se tinham. Uma das disciplinas mais difíceis era o latim, mas por quê? O latim era totalmente diferente da língua portuguesa. Então tinha aquela desinência verbal que a gente tinha dificuldade de aprender né. Depois disso, fora do latim eu ia muito bem, tanto eu quanto meu irmão, a gente gostava de estudar, tanto que minha mãe uma vez né, ela ficava assim, porque tanto eu quanto meu irmão, a gente estava como ‘viciado' no estudo, a gente gostava de estudar. Ela foi falar com o diretor da escola, até o diretor disse pra ela: ‘Olha, a senhora não força.' Ela falou: ‘Não, eu não forço, eles que gostam.' Então falou: ‘Então deixa.' A gente sempre gostou muito de estudar. [10']
Pergunta:
E você era mais levado, mais calminho...?
Resposta:
Não, eu era bem mais levado do que meu irmão. Meu irmão, até hoje, ele tem uma... Assim, uma personalidade mais reservada, mais tranquila, ele é bem assim de... Sabe de ficar na dele. Eu já não, eu era bem... Bem levado, bem ousado com tudo e arrumava muita encrenca também na escola, que nem... O meu irmão nunca ficou de castigo, eu ficava várias vezes de castigo. Eu me lembro de que na época, a minha mãe ia levar na escola um copo de leite quando eu estava no primário, ah... Quando chegava lá, ‘e o Roberto não vai sair da sala?' ‘Não, Roberto ficou de castigo lá e a professora não deixou sair'. Agora já meu irmão, não, meu irmão nunca ficou de castigo.
Pergunta:
Mas que tipo... Que tipo de ações é que a criança fazia com que ela ficasse de castigo?
Resposta:
É... Eu brigava na sala às vezes com um, se agarra lá com outro, conversava muito. E meu irmão não, meu irmão era bem mais tranquilo, então o castigo que a professora dava era que, eles chamavam na hora do recreio e você não podia ir para o recreio, você ficava sozinho na sala. E várias vezes minha mãe ia levar um copo de leite na hora do recreio e eu estava de castigo, eu não saia.
Pergunta:
E ai ela ficava brava com você?
Resposta:
Ah! Ficava. Até a hora que ela falava que eu tinha que seguir o exemplo do meu irmão, mas eu nunca segui. Ele era bem mais assim... Bem mais educado.
Pergunta:
E ela contava para o seu pai?
Resposta:
Contava para o meu pai, mas meu pai também sabia que a minha natureza era diferente, falava com ele. Tanto que meu irmão era considerado um modelo de comportamento de aluno e eu, embora eu fosse bem nas matérias, eu não era modelo de jeito nenhum.
Pergunta:
Quem era mais bravo seu pai ou sua mãe?
Resposta:
A minha mãe, sem dúvidas nenhuma. Meu pai era totalmente mandado por ela e ela fazia tudo o que ele queria. A minha mãe era mais um tipo de guerreira, sabe? Apesar da pobreza, ela chegava e ia para cima, ela lutava pelos filhos mesmo, sempre defendeu muito os filhos.
Pergunta:
Fala um pouquinho dela, porque você falou que ela viveu até os 101 anos.
Resposta:
Ela viveu até 101 anos e a gente... Isso que foi o mais interessante, a gente era um dos mais pobres da rua, assim... Da vizinhança, né? E os vizinhos que vieram depois, falaram né... Porque o "salin" na Vila Califórnia an... Muitos se perderam, porque assim, diante da pobreza, era muito fácil se perder por conta das drogas, an... Se perder com más companhias e nisso nós tivemos sorte, sabe? Tanto eu, quanto meu irmão, nós sempre trabalhamos e nós nunca nos envolvemos com esse pessoal. Até por uma vizinha, né... Que minha mãe antes de falecer, ela teve... A gente pagava uma cuidadora, pagava mais de uma cuidadora até, né... E até a vizinha dizia ‘olha, a senhora dona Carmela teve sorte com seus filhos, porque veja, a senhora era a mais pobre aqui e agora tem até quem cuide.' Então... Nisso, tanto eu, quanto meu irmão, nós fomos pelo bom caminho, vai.
Pergunta:
Bom, então vamos agora mais para a adolescência. Qual era o programa de adolescentes? Vocês iam ao cinema?
Resposta:
Então, o programa de adolescente era totalmente diferente da época de vocês... A gente... A gente ia à missa... Era na missa que você arrumava alguma namorada, alguma coisa, e era aquela coisa... Que não tinha esse envolvimento entre homem e mulher, por exemplo, as moças ficavam de um lado, os rapazes do outro... Esse foi o início da minha adolescência. Ai veio toda a revolução de 68, dos Beattles e tudo mais, que começou a mudar tudo, né... Então, o nosso programa era o quê? Cinema e quando ia para o cinema, era uma alegria só. Depois, já no final da adolescência, apareceram as lanchonetes e quando apareceram as lanchonetes, ah... A gente ficava tudo contente de comer um X-salada, tomar um sor... Era uma vida bem assim, né? E os namoros naquela época eram totalmente diferentes. E como a gente não se envolvia, eu e meu irmão, assim... Com esse pessoal mais da pesada, o que a gente fazia? Era namoradinha, quermesse, cinema e lanchonete.
Pergunta:
Sua família era muito religiosa, sua mãe... [15']
Resposta:
Então... É... Era e não era, porque na verdade, eram católicos não praticantes. E durante a minha adolescência, eu queria conhecer a Bíblia. Ai eu fiz uma coisa assim (...) Eu tinha um vizinho, que era de uma igreja evangélica, ai eu comecei a ir com ele lá durante... Assim, alguns meses. Só que eu não aguentei né, só que eu não aguentei, eu sai na mesma hora ai. Mas eu sempre tive muito isso né, de querer conhecer a Bíblia, conhecer as coisas que (...) Assim, uma coisa de que eu me lembro, fui perguntar para o meu pai, na adolescência, e falei ‘O que que é a Bíblia?', ai ele ‘Ah, eu não sei'... Ai, eles eram muito humildes e depois (...) Eu resolvi estudar, ai na filosofia e depois eu fui dar aula até para os seminários para padres, eu dei aula, também na FAI durante um período, pela minha formação em filosofia.
Pergunta:
Mesmo não sendo praticante, na sua casa tinha, assim... algum lugar tinha uma santa, alguns anjos...
Resposta:
A minha mãe era devota de Nossa Senhora Aparecida, eu nunca fui. Eu sempre gostei... Talvez por essa tendência para o intelectual... Eu sempre gostei desse lado mais, assim (...) mais filosófico da Bíblia, o que eu queria saber? É quantos capítulos tem a Bíblia? Por que isso foi escrito e tal... E meu pai não tinha como responder isso.
Pergunta:
Mas assim, você frequentava a missa mais por uma atividade de lazer ou... Sua mãe...
Resposta:
Isso! Mais para arrumar namoradinha, porque...
Pergunta:
Então foi mais na adolescência, quando você era pequeno você não ia?
Resposta:
Não. De pequeno eu fiz o catecismo, fiz tudo ali e é porque minha mãe mandava. Agora depois, na adolescência, você ia à igreja porque tinha quermesse ao lado, você ia para arrumar namoradinha, era uma época muito puritana, né? E só ali que você... Que eu não tinha dinheiro, né, que o dinheiro era muito curto, para arrumar lá, era na quermesse e a quermesse era ligada à igreja.
Pergunta:
Bazzanini descreve como eram as quermesses na época.
Respostas:
A quermesse era o que? Tinha aquele joguinho de coelhinho, onde o coelhinho não podia parar, tinha aquele negócio de jogar com a bola lá que se você acertava lá em um lugar, você ganhava parece que um elefante de louça... E você ficava tudo contente, porque você levava para casa... Tinha um negócio lá de tiro ao alvo, que (...) Você não ganhava nada. A quermesse era boa por que... O que você fazia? Com pouco dinheiro você se divertia.
Pergunta:
E a parte de comida, como era?
Resposta:
Ah! A parte de comida era o quê? Quando eram mais aquelas festas juninas lá, tinha quentão, tinha aquelas... Linguiça, pão com linguiça, pão com salsicha... Era aquela coisa bem humilde mesmo.
Pergunta:
Mas tinhas as quermesses só em uma época do ano, ou tinham o ano inteiro?
Resposta:
Era mais... Era mais na metade do ano, né, porque ali nas festas juninas, praticamente toda a vila ia para lá. E toda a vila ia para lá porque era bem mais em conta, era divertimento de pobre mesmo.
Pergunta:
Qual era a igreja que vocês iam?
Resposta:
Era a igreja Nossa Senhora das Graças, que fica ali, entre a Mata Machados e a rua Atenas.
Pergunta:
Na Vila Califórnia?
Resposta:
Na Vila Califórnia.
Pergunta:
Bom, e ai como é que foi seu interesse de estudar filosofia?
Resposta:
Então, ai é que está, sempre eu gostei, sempre eu gostei da cultura. E quando eu comecei a ver os primeiros pensadores, eu me lembro de que quando eu comecei ler aqueles primeiros contos, olha... Eu era bem adolescente, eu gostava muito de Shakespeare. Quando eu começava a ler aquelas histórias, todo mundo ficava assim... Mas você lê? Falei assim, cara... Eu comecei ler _______, na sala de Shakespeare e claro, entendia pouco, mas eu gostava disso, era só Romeu e Julietta, próprio da juventude e tal. Dai eu comecei a ler, depois aqueles livros de psicólogos, aqueles livros bem de autoajuda ali e tal, né... E eles citavam muito Shakespeare, ai eu comecei a me aprofundar. Quando era apara entrar na faculdade, eu não tinha dúvidas, eu quis fazer Filosofia, porque sempre, sempre eu gostei disso. Ai, todas as coisas que é... A senhorinha eu quis enquadrar na filosofia, o que eu fazia? Para qualquer acontecimento, eu tinha uma citação filosófica. E quando eu ingressei em uma universidade (...) [20'] Os professores diziam que eu tinha o maior interesse nisso, sempre eu fui muito... Eu tive muita dificuldade nas ciências exatas, mas nas ciências humanas sempre eu tive muita facilidade, e a filosofia era o que eu mais gostava.
Pergunta:
Como é que o senhor arrumava esses livros para ler?
Respostas:
Então, ai é que ta. Era uma época que você tinha que ir á biblioteca. E tinha essa biblioteca do Bonifácio, aqui [aponta para o lado], antes de entrar para a faculdade que você pegava aqueles livros bem simplórios, eram até livros, até mais de etiqueta, e você começava a ler algum manualzinho ali, a maioria para tudo manual. E eu comecei a me interessar muito por isso, eu gostava de ler e pegava até aqueles filósofos que tinha lá na biblioteca, até aqueles que eram lá do Egito. Mas era uma forma de educação, sabe? Que chegava, Peter Hopkin ele dizia que a gente tinha que agir assim e a partir dali, meu interesse pela filosofia foi aumentando. Ai eu comecei a ler aqueles que eram os clássicos da filosofia, eu me interessei pelos diálogos de Platão, e gostava muito de ler, por exemplo, Sócrates. E quando eu entrei na universidade, eu já tinha isso. E para entrar na universidade da época, diferente de hoje, você tinha que ter uma memória muito boa, porque às vezes o professor pedia para você recitar poemas inteiros, por exemplo. Você tinha que recitar... Era diferente a avaliação, não é como é agora. Por exemplo, muito daquela época... Que eu gravei, eu me lembro de que eu... Então você lia ‘Como os gregos entendiam o amor', né, ai o professor, só para fazer uma demonstração rápida, ele pedia ‘vai então recita isso' e ela ‘Um dia, lá pela meia-noite, quando a Ursa se deita nos braços do Boieiro e a raça dos mortais, toda ela, jaz, domada pelo sono, Foi que Eros apareceu e bateu à minha porta. "Quem bate à minha porta, e rasga meus sonhos?" "Abra", ordenou ele. "Eu sou uma criancinha, estou encharcado e com frio, numa noite sem lua". Ouvindo-o, tive pena; Levantei-me e acendi o candeeiro, E vi que era uma criancinha. Ela tinha um arco, asas e uma aljava. Eros, então me disse: "Vamos hospedeiro, testemos este arco, vejamos se a corda molhada não sofreu prejuízo". Retesa o arco e fere-me bem no fígado, como se fora um aguilhão. Depois, começa a saltar, (...) às gargalhadas. Eros quando se refez do frio "Hospedeiro!" disse ele, "Meu arco está inteiro, teu coração, porém, para sempre ficará partido"'. E você tinha que fazer tudo isso. E lá na filosofia... Eu tinha memória boa, eu gravava uma série lá e eu me destacava nisso, por isso também que foi toda a... Toda essa afinidade, toda essa sintonia.
Pergunta:
E o que sua família achou de você querer fazer o curso de filosofia?
Resposta:
Ah! ‘Totalmente louco totalmente louco'. O meu irmão, que era muito mais racional, muito mais daqui, ele falava ‘Para que tudo isso? O que leva tudo isso?', porque eles viam o lado da utilidade e eu estava interessado na época realmente pelo conhecimento... Do conhecimento... Ai, depois, até... Uma história que foi interessante, porque de adolescente... A gente começa a ter aqueles amores que a gente se apaixona né, ai para que eu peguei um verso lá que era de Santo Agostinho, lá do amor, né? Ai eu comecei a declarar... A declamar tudo aquilo, porque eu estava apaixonado por uma namorada e como eu disse, eu transformava tudo na filosofia, então era assim... Olha, eu não vou recitar inteiro, porque senão vai toda a gravação, mas era assim ‘Amar, ser amado e morrer. Quanto anseio de ti essa aventura? Quantas dores por ti padecia? Amar, ser amado e morrer. Eu imagino ser venturoso, que hoje pode gozar as venturas de ter-te, possuir-te e talvez para sempre. Um dia, quando leres os meus cantos, saberás as razões dos meus prantos, e sentirás o que sinto por ti tenho certeza. Quando as desilusões tiverem agasalhado essa cabecinha doida, quando verrugas o teu rosto estiver cheio, saberás quão amarga foi a minha sorte por ter te amado um dia. E dirás, nesse dia então [25'] "Amar, ser amado e morrer. Não amei, fui amada e fiz sofrer quem mais me amou nesse mundo, amou tanto, tanto, até morrer." (...) Tem a segunda parte ainda... Eu começava a encher o saco com isso ai ainda... Eu começava e meu irmão ficava assim... Porque sempre eu gostei desse lado, né. E ai, como eu tinha facilidade de memorizar, começava a me exibir com isso, e eu gostava disso, ai foi isso que me integrou muito na filosofia.
Pergunta:
E isso que você disse da filosofia, que você gostava muito... E Santo Agostinho?
Resposta:
É! Antes dele... Antes de ele virar santo. A história de Santo Agostinho antes de ele virar santo, ele vivia assim... No meio da mulherada! (...) E tem a segunda parte, ‘Hoje em mim tu vive, não sei o porquê amo te ainda, sei apenas que o amor não finda. Quando altas horas da madrugada incerta vem a minha amada despertar-me em doce leio. Vem à esperança. A esperança de um sorriso, de um doce sorriso teu, que um dia me endoideceu, que inundou-me de sonhos. Ah, vem tirar-me destes sonhos! Vem despertar-me para a vida. Amar, ser amado e morrer. Amei-te muito. Fui amado? Ah... Não sei. E hoje, nesse dia, lembro em agonia, que te amei e não fui amado, amei-te só para sofrer. [risos] Eu vivia nisso ai! [risos] Então foi essa coisa ai que...
Pergunta:
Você trabalhava antes de entrar para a faculdade?
Resposta:
Ai... Eu arrumei, nossa, um emprego espetacular para poder estudar, né, porque o curso de filosofia era de manhã, e a gente não tinha... A gente não tinha dinheiro. Eu arrumei um emprego no correio e, no correio, eu trabalhava de carteiro... Ai você vê o porque da ideia né... Mas para poder estudar eu trabalhava à tarde e eu entregava carta lá que tinha que ir lá ao distrito e ter que entregar à tarde. Estudava de manhã assim... De manhã e isso no início do curso né. Depois eu comecei dar aula em cursinho e como eu gostava de tudo isso e essas recitações aí encantava os cursinhos né... Então, eu comecei a dar aula no Etapa e dando aula para o Etapa, né, eu dava aula assim... Dava aula de história, dava aula dessas disciplinas voltadas por... Assim, por humano, né.
Pergunta:
E... Para fazer vestibular? Era vestibular que fazia naquela época para ingressar na USP?
Resposta:
É... Era. Aquela época era o... __________ Eram as três áreas do conhecimento. Entrava pelo vestibular e depois do vestibular, você tinha uma entrevista, assim, para você ver, apesar de ter passado... É por isso que você tinha que demonstrar interesse, porque as vagas eram bem disputadas... Eram bem disputadas. Talvez, em outra faculdade, eu teria dificuldade de entrar. É que... É que filosofia, eu gostava e tinha toda uma afinidade por filosofia. Da para se dizer, assim... A filosofia fazia parte do meu DNA. É como eu disse desde a adolescência eu interpretava tudo o que acontecia filosoficamente, é até absurdo isso, né, mas era o que eu fazia. Eu buscava um explicação filosófica para tudo, né.
Pergunta:
Você entrou [na faculdade] em 1971, né?
Resposta:
Isso! (...) Ai, eu... Por alguns motivos eu tive que sair da USP, né, ai eu comecei... Eu parei o curso, né... E eu continuei... Mas ai como os cursinhos não exigiam que você tivesse diploma para ser oficial, você dava aula nos cursinho da época, tanto que eu não poderia dar aula para o segundo grau porque não tinha faculdade completa, mas eu podia dar em um cursinho. Ai eu comecei a dar aula para o cursinho, né... Comecei a fazer muita coisa dentro da publicidade também, assim... De freelancer, eu fiz muita dublagem assim... De freelancer. Principalmente daqueles filmes de faroeste, eles precisavam... Eu me lembro até de um que era muito antigo, que era assim ‘os produtos Puma: pão e bolo apresentam o texano, estrelando ‘raicaion'. E como eu tinha facilidade em memorizar, então isso, para mim de roteiro, era espetacular. [30'] Ai depois passou-se mais tempo, ai todo o pessoal estava me pressionando, que eu tinha que ter uma coisa assim, mais... Mais utilitária. Ai foi que eu fiz o vestibular para o curso de administração da USCS, e eu vim fazer administração na USCS.
Pergunta:
Ta, e... Um pouquinho antes né... Como era na USP, lá em filosofia?
Resposta:
Então era a época lá do Médici, era uma censura incrível. E eu tinha uma coisa, eu era muito assim... E eu era muito crítico e eu não tinha às vezes... Eu não media muitas coisas, e eu falava, eu contestava... Eu contestava principalmente após o ‘milagre brasileiro' né. Eu me lembro de que em uma das passagens ali, que eu tive uma encrenca com o professor que era... Que era ligado ao regime... Ele começou a fa... Ali, a falar sobre o ‘milagre brasileiro', e eu fui contestar. O grande... O grande elemento do ‘milagre brasileiro', o grande ministro, superministro, é o Delfim Neto. Ai, eu fui fazer uma pergunta e todo mundo ficou quieto. Eram aquelas aulas chamadas de PB, estudo de problemas brasileiros, você sabe o que a ditadura fez. A ditadura tirou, assim, dos cursos normais, a história e começou por PB e tal, aí ninguém perguntava nada porque eles tinham um certo receio. Ali na aula, eu chego e eu digo assim... O cara assim ‘é que Delfim Neto fez isso' E o professor... Olha assim [rosto de dúvida] ‘ELE É TEU PAI? ELE É TEU IRMÃO? É MINISTRO DELFIM NETO!'. Aí eu fui abrir a boca de novo, e falei ‘além de ministro é mais algumas coisas também'. Ah!... Para quê?... Aí vieram me puxaram pelo braço e me tiraram da sala. Então, esses episódios, é que eu contestava muito, assim como tinha outros, né. Ai eu não media as coisas e... Aí, com isso daí, eu tive que parar o curso, né.
Pergunta:
E lá em 1972, o curso de filosofia já estava na cidade universitária ou ainda estava lá no centro?
Resposta:
Estava lá no centro. Estava indo depois lá para... Para a cidade... Para a Cidade Universitária. E aí, tem gente que... Tem a turma da direita né e a turma bem da direita era a turma do Mackenzie... A turma do Mackenzie era aquilo: tradição, família e propriedade, defendiam bem... Bem a outra ala. E a gente tinha uma visão... mais de esquerda, ou mais humanista né. E ali acontecia muita encrenca né, porque era uma época em que se fazia censura dentro dos meios de comunicação. Quem é da época lembra: qualquer programa tinha que passar pela censura Federal. Você, para comprar qualquer livro, o que você tinha? Uma dificuldade enorme. Tem uma livraria em São Paulo, que era a livraria ‘Avanço', que ficava ali perto da estação da Luz, naquele pedaço. E o que eles eram obrigados a fazer? Eles punham o livro do Chico Xavier lá nas prateleiras, se você quisesse livros voltados para Gandhi, para o Marxismo, ela estava lá dentro e você tinha... Se te pegasse lá dentro, você estava... Você ia ter problemas, porque na época você não podia entrar com nenhuma publicação que o regime militar não autorizasse né. Então até para comprar livros tal, era bem difícil... Era bem difícil, e, por exemplo, os livros de Marx e dos intérpretes de Marx eram proibidos no Brasil. Você só comprava na livraria ‘Avanço' e com essa (...) desse jeito. Agora, se te pegasse dentro da livraria você poderia ser conduzida ao _____ da época.
Pergunta:
E agora voltamos à década de 70... Quando você, então ficou na USP e depois veio fazer administração na USCS...
Resposta:
Isso!
Pergunta:
Conta para a gente como era. Como foi sua chegada à cidade, como era a faculdade...
Resposta:
Então... Quando... Assim, quando eu entrei na USCS, Eu estava entrando aí... Eu estava com vinte... Vinte e cinco anos já e eu sempre trabalhava de bico... Bico não, mas não era para o trabalho como se tinha na época, porque na época o que é que se tinha? Olha você tem que entrar numa empresa, se consolidar nela, se aposentar nela... [35'] A ideia de aposentadoria na época era assim... Eu me lembro de que tinha assim... Que teve um ministro do trabalho, Alexandre Marcondes Filho e toda a carteira profissional vinha lá com uma advertência... Olha, ‘a carteira profissional, ela mostra tua vida, se você foi uma pessoa que se encontrou logo cedo ou você viveu pulando igual uma abelha e tal...' E muita gente me pressionava, ó, ‘você fica aqui e ali, tal', porque todo... Todo normal da época era você entrar numa empresa para se aposentar nela. Aí eu fui para o curso de administração. Quando eu entrei no curso de administração, eu estava buscando trabalhar numa empresa, apesar de saber que para o meu temperamento seria meio difícil para se encaixar nisso, mas a pressão de todo mundo... ‘Não, você vê o fulano que tá na GM, você vê aquele lá... ' Aí eu fui fazer o vestibular no IMES, na época, Instituto Municipal de Ensino Superior de São Caetano do Sul. Vestibular era concorrido... O vestibular não era tão fácil, tanto que a se, naquela época, não é como é hoje, alguns poucos que reprovaram, eles choravam e olhar na lista lá que saía e não estava o nome da pessoa, ela chorava ‘ai, ai, não passei, agora eu tenho que estudar mais' e tal. Aí eu entrei lá no IMES, quando eu entrei para o IMES né, o curso era totalmente diferente, as disciplinas eram totalmente diferentes: economia, estatística, matemática... Onde que eu me destacava? Eu me destacava nas disciplinas humanas que nem, sociologia, psicologia, antropologia, nessas eu me destacava, já nas outras eu não tinha... Eu não tinha interesse, então aí várias vezes que na época também eu entrei na administração e tinha o curso de Ciências Sociais até com o professor Gil e eu queria transferir de curso várias vezes... Assim eu hesitei, falei: eu vou mudar para esse curso que tudo tem a ver comigo... Mas aí, ao mesmo tempo, tinha aquela ideia ‘não eu tenho que trabalhar, eu tenho que ter um curso mais utilitário', aí eu continuei na administração.
Pergunta:
O senhor lembra um pouquinho como era o prédio...
Resposta:
Não, na época tinha apenas quatro cursos só... Tinha aquele prédio... Assim mais do lado da Avenida Goiás, e o que você tinha ali? Eram aqueles cursos basicamente... Eram cursos técnicos. E na época, era tão diferente... Você era um vencedor porque você tinha passado no vestibular e você estava na faculdade. O que acontecia? Você comprava aquele monte de livros, um de cada disciplina, entrava lá na sala de aula como se fosse... Como se fosse um vencedor, e diferente do que é hoje na época da internet, as informações era muito restritas, você queria encontrar por determinado assunto e você tem que ir à biblioteca, você tinha que pegar uns dez livros para tentar achar alguma coisa, e a própria bibliotecários, às vezes, ela não sabia onde que estava e ela te dava aquele monte de livro para você achar alguma coisa lá, aí foi uma nova realidade para mim, aí eu... Os cursos, ali, eram muito menos críticos, era muito mais de você obedecer... E quando você ia conversar lá com os alunos e eu estava acostumado com aspectos muito críticos, eu tinha dificuldade, aí eu percebi que eu tinha mais era que estudar e me adaptar, e foi isso que eu fiz.
Pergunta:
E a faixa de idade dos alunos era a mesmo que a sua?
Resposta:
Não, a grande maioria era mais jovem que eu... Eu entrei em torno de vinte e cinco anos e eles estavam com dezoito, vinte anos, e tinha alguns com mais idade vai... Uns 20% estava na faixa de trinta e pouco, quarenta anos... Aí esses mais velhos geralmente eram aqueles que tinham feito supletivo, e eles tinham maior dificuldade.
Pergunta:
Você fazia vespertino ou noturno?
Resposta:
Noturno. Porque, na época, você tinha duas opções, parece que eram das 17h às 20h, vinte e pouco e das 20h e pouco às 23h, e era destinado, preferencialmente, aos funcionários da GM, que saiam desses horários e iam direto para a faculdade. [40']
Pergunta:
E você lembra alguns professores...
Resposta:
Então, eu me lembro de algum...
Pergunta:
Ou de um professor...
Resposta:
É, então, eu me lembro de alguns professores, por exemplo, a matéria que eu tinha mais facilidade era sociologia, então a professora Neide, até, ela tinha muita afinidade comigo e ela até me pedia pra eu dar uma... Ensinar os outros, ‘olha auxilia outro grupo auxilia... ', porque na verdade, até pela formação anterior em filosofia, das matérias que eu tinha cursado... A filosofia para mim era muito simples, a sociologia para mim era muito simples, embora o que a lei direcionava, era sociologia voltada para administração, que era muito mais fácil até que a sociologia geral. Elas pegavam aqueles autores: _______, Max Weber e tudo aquilo que eu já conhecia de longa data. E onde eu tinha dificuldade, por exemplo, era nas matérias exatas. Exemplo nas matérias exatas e tinha um professor Denis _____, que na época era bem jovem e o professor deles era de uma energia que, eu vou te contar, para eu passar na disciplina dele, tive enormes dificuldades. Ele enche a louça aqui [aponta para o lado], e quando eu estava copiando o outro lado ele já vem... Ele já estava apagando [apagando para o outro lado], esse era aquele professor acelerado, exigente e foi a disciplina que eu mais tive que... Que me sacrificar para estudar e na... Por exemplo, nas aulas da Neide, não estudava nada e todas as notas eram nove ou dez, e na disciplina do Denis, me arrebentando para tirar cinco, seis quando dava, porque a nota para passar na época a... A nossa era cinco, né. E aí eu fui ficando, depois pegando disciplinas como contabilidade, administração, eu ia me adaptando, mas nunca foi aquilo que era a minha vocação, que era o meu forte. Sempre gostei de disciplinas voltadas para a humanidade.
Pergunta:
Bazanini, você se lembra de quem era o diretor, na época que você estudou?
Resposta:
O diretor da época era o pai do Dallanese... Como era o nome dele? (...) eu esqueci o nome dele... Até que ele faleceu. Era Dallanese, depois do Dallanese foi o Sílvio, na época que eu estudei. Eu comecei com Dallanese, um vice dele era o Jorge... E eu não estou lembrado do sobrenome, depois foi o Sílvio que era bem jovem na época que foi o diretor.
Pergunta:
E... Outros professores além da professora Neide e do professor Denis...
Resposta:
É, tiveram vários outros professores tinham até... Não foram muitos professores, mas professores que assim... Que eram... Vamos dizer, mais assim... Mais autoritários. Eu me lembro... Eu não vou lembrar o nome do professor, um que dava administração de materiais, que não era brincadeira não, o cara era de um autoritarismo e os alunos gostavam muito dele. Professor Leonel Tinoco, de economia, também era muito autoritário, mas era a norma do curso. O meu estranhamento é que eu tinha vindo de um curso que era muito crítico para um curso que não era crítico, então você tinha que fazer e ficar quieto, lá não tinha aquela ideia de descobrir causa, lá tem aquela ideia de fazer. Era um curso absolutamente pragmático. Algumas vezes eu até falei assim ‘mas será? Será que é isso que eu quero?', mas ao mesmo tempo eu tinha aquela ideia ‘eu tenho que ter um curso profissional para eu trabalhar', né.
Pergunta:
Bazanini, você pagava o curso?
Resposta:
Pagava. Eu paguei pelo curso, nunca tive bolsa, nunca tive nada.
Pergunta:
E assim, proporcionalmente quanto você recebia? Qual era sua renda?
Resposta:
Então... Eu vivia de bico, né... Bico assim, de freelancer. Eu dava aula no Etapa e a minha vida era assim. Dava aula de disciplinas de humanas e cursava ali para ter, talvez como segurança, como garantia que teria... Que teria um emprego. Para pagar eu não tive... Assim, eu não tive dificuldade, a minha dificuldade maior... Foi nesse entrosamento, eu tinha que me entrosar em uma nova realidade que não era a minha. Ai, o que aconteceu? Alguns alunos, assim, que estavam... Que estavam empregados... [45'] Eles começaram a falar ‘olha, tem uma vaga lá na empresa', ai eu fui tentar trabalhar por uma empresa de contabilidade... [sinal negativo com a cabeça], não deu certo... [risos], de jeito nenhum. Para mim aquilo era um martírio, porque pela minha personalidade, é muito difícil ficar parado, e lá naquela empresa, a gente tinha que ir lá, ficar na tua mesinha, sentado, nem se levantava, fazendo o livro razão, fazendo diário de contabilidade. Sabe o que aconteceu? Eu, jovem de tudo e até hoje não tenho problema nenhum de doença, não tomo nenhum remédio, eu comecei a passar mal, começou a me dar úlcera, começou a me dar gastrite, porque ter que ficar sentado numa mesinha, fazendo livro razão, fazendo livro tal ali, era uma violência para mim. Ai eu fiquei acho que uns três meses lá, ai eu sai. (...) Ai depois, que na época foi no último ano, você tinha que fazer um estágio supervisionado. Ai eu tive também que trabalhar por uns meses numa empresa... Era uma empresa de móveis, ali... E eu pedi até para o cara, falei ‘ó, deixa eu trabalhar... Eu estava na área administrativa, mas deixa eu mais na área de vendas', ai embora registrado na área administrativa, eu atuava mais na área de vendas, porque se fosse para ficar preso lá numa área de contabilidade, eu não conseguiria.
Pergunta:
E isso você... Foi trabalhando com as vendas até começar como professor pela primeira vez?
Resposta:
Não, não. Eu já dava aula em cursos do tipo lá, de Etapa e tal. Ai depois que eu saí disso, eu percebi que o meu ponto forte era de professor. (...) Ai... Eu continuei... E eu nem sabia disso... Fui fazer uns cursos lá na [universidade] São Judas, de lato Sensu, do que eu gostava que era voltado para a linguística, voltado e tal... Ai eu comecei a dar algumas aulas no segundo grau, que já podia, porque eu já tinha... Além de ter da USCS na administração, ai eu comecei a dar umas aulas também voltadas para essa área de administração para o segundo grau, mas não era isso que eu queria. Eu comecei a dar aula no Torloni [Escola Estadual Maria Trujillo Torloni], e eles tinham aquele curso profissionalizante de segundo grau, que englobava algumas disciplinas de administração. Ai quando... Depois que eu terminei com a São Judas, eu fui... Eu vi essa possibilidade do mestrado e fui fazer na [universidade] Metodista, na área de comunicação.
Pergunta:
Mas você já tinha terminado a filosofia que você voltou a fazer?
Resposta:
Sim! Ai depois o que eu fiz? Eu voltei a fazer filosofia em 1985, depois de três anos de formado no IMES, ai eu voltei a fazer filosofia e me encaminhei... Ai eu senti realmente, depois que eu terminei... Ai eu comecei a dar aula de todas essas disciplinas. Ai eu falei ‘mas tem que fazer depois um mestrado', ai me ofereceram aula lá na FAI... Ali onde eu tinha feito filosofia... E falaram ‘não, mas você tem que fazer um mestrado', e eu falei ‘olha, vou fazer mestrado em filosofia', e eu pretendia fazer na USP, mas eu estava casado, estava com filho recém nascido e a Metodista era bem perto. Eu morava aqui em São Caetano, eu tinha... Aqui o meu filho mais velho que estava com três meses, e eu não podia fazer uma viagem daqui até a USP. Ai eu entrei pelo mestrado em comunicação, e depois de seis meses, estava dando aula na comunicação da Metodista.
Pergunta:
Nos cursos de graduação?
Resposta:
Nos cursos de graduação.
Pergunta:
Jornalismo...?
Resposta:
Jornalismo, relações humanas e publicidade. Depois, como eu tinha filosofia, eles me deram também algumas aulas na faculdade de teologia lá da Metodista, e eu dava aula de filosofia lá para eles também. Ai eu comecei a me entrosar, fiz o mestrado de 1989 para 1993, e eu estava pensando até em parar. [50'] Eu dava aula para um rapaz, ali, com o Calazans, né, e o Calazans, mais jovem que eu, já tinha doutorado, e a gente dava na... Na Metodista, a mesma disciplina, eu dava Teoria da Comunicação. Ele me falou da PUC, falou ‘por que você não vai fazer um doutorado na PUC?', ai eu entrei no doutorado da PUC de Comunicação e Semiótica, ai se abriu tudo, assim, voltado mesmo para o magistério. Ai, eu conclui... Ah! Antes disso eu estava só com o mestrado, estava no doutorado da PUC e dava aula na Metodista. Ai uma professora de nome Cleópatra... Eles precisam de professor de filosofia na USCS, que era IMES, aqui no IMES, só que eu estava lotado na Metodista. Eu dava aula de segunda a sexta, todos os dias e dava aula várias manhãs, então não tinha... Eu não tinha horário, então eu não fui. Mas ela falou ‘não, tem aula para você lá de filosofia', mas não tenho horário, e assim de ela tanto insistir, para dar uma satisfação para ela, eu fui falar lá com o coordenador, acho que ele era coordenador de departamento da época, era o ______. Ai eu cheguei e falei ‘estou vindo aqui pela professora Cleópatra, mas eu não tenho horário. De segunda, terça, quarta, quinta e sexta eu dou aula na Metodista. ' E ele falou ‘eu te ponho de sábado'. Ai ele me pôs de sábado para dar aula e ali que começou a minha carreira a USCS. Inicialmente, eu fui contratado no ano de 1995, no ano de 1996 eu prestei concurso e estou até hoje lá.
Pergunta:
E passou a ser docente em quais cursos?
Resposta:
Inicialmente no curso de administração, depois no curso de administração e comunicação. Ai depois, eu prestei para outras disciplinas, mas surpreendentemente, que eu sou concursado na USCS em redação publicitária e marketing, eu fiquei marcado lá dentro e minhas aulas são sempre de filosofia.
Pergunta:
Bazanini, você tinha comentado com o recurso que tinha uma deliberação fundamental que passa a incluir a_______
Resposta:
Isso!
Pergunta:
Como foi isso?
Resposta:
Por que ela fez isso? Que a Cleópatra me disse. Porque não tinha aula de filosofia para administração. Em 1993, veio uma resolução, acho que é do Conselho Federal, que era recomendado se ter a disciplina filosofia, por isso que a professora Cleópatra, quando me... ‘Olha, tem aula lá no IMES para você' e tal, porque ela sabia que eu era formado em filosofia e a partir de 1995, o curso de administração da USCS, passou a ter o curso de filosofia.
Pergunta:
Ai tem filosofia agora?
Resposta:
Isso. Ah, e sempre teve muitas aulas, tanto que depois... Na época que eu entrei o diretor lá do... Da instituição, era o professor Marco Antônio Silva, ai ele saiu e depois entrou o professor Laércio. O professor Laércio queria que eu pegasse todas as... Todas as turmas de filosofia. Ele me dava todas as turmas de filosofia. Ai filosofia passou a ser uma matéria também do curso de administração, como é até hoje. Ai depois também, eu prestei concurso na comunicação, também para filosofia, e também comecei para lecionar lá.
Pergunta:
E como eram os alunos dessa época que você dava filosofia?
Resposta:
Totalmente diferente do que é o aluno de hoje. Como não havia internet, o professor tinha uma coisa: todo o conhecimento dependia do professor. Então, o acesso à informação era muito difícil, ainda mais na área de filosofia e, diante disso, o que eu comecei a fazer? A partir de então eu comecei a escrever livros de filosofia que eram voltados para administração e voltados para a comunicação. Por quê? Porque não se tinham, por exemplo, acesso a isso, era muito difícil se alcançar uma informação. Aí, eu escrevi, por exemplo... em 1995 eu fiz o meu primeiro livro de filosofia sobre Gandhi e foi... E foi interessante, foi um livro vendido em banca de jornal, esse professor dali... Ele se tornou... Da editora, aí de uma editora responsável pela publicação e eles precisavam de livros de filosofia. Eu escrevi... Você escrevia um livro sobre Gandhi, fazia uma comparação entre a filosofia de Gandhi e o cristianismo. [55'] Para a minha surpresa esses livros vendiam em banca de jornal e venderam mais de 60 mil exemplares... Aí, depois como eu estava com as disciplinas de filosofia da administração e filosofia da comunicação, eu comecei a publicar livros nessa época aí ‘A Visão Filosófica da Administração', ‘A Filosofia e a Evolução das Ideias Sociais'... Aí eu comecei a publicar vários livros que eram adotados, tanto aqui na USCS, quanto em outras universidades. (...) Mas o meu forte, desde essa época ai, sempre foi a filosofia.
Pergunta:
No período em que você estava fazendo o doutorado, foi o período em que você ingressou e começou a trabalhar na USCS, né?
Resposta:
Então, eu estava no mestrado, porque eu entrei na... O meu mestrado... Ah! Foi quando eu estava no início do doutorado, foi em 1995. Eu entrei na PUC em 1993, e conclui em 1998. Foi quando eu estava no doutorado. E a USCS daquela época, o IMES daquela época, era muito bom. Tinha muita aula, a integração entre os professores era... Era fantástica! Para se ter uma ideia: eu dava aula praticamente de segunda a sexta na USCS e sábado o dia todo, começava às 8 horas da manhã e terminava às 17 horas... E havia toda uma integração entre professores, até porque tinha muita aula... Que não tá acontecendo agora com essa crise. A partir de 2014, houve uma mudança muito grande, aí as aulas começaram a ficar bem mais restritas. Mas nessa época até eles me pediam assim, ‘olha... '. Eu comecei também a dar aula na São Marcos, tive aulas na São Marcos na capital, e o pessoal do IMES falava ‘Não, Bazanini, teu lugar é aqui'. Eles me lotavam praticamente todas as noites na USCS. (...) Agora que ficou muito difícil por função... Depois de 2014, né, e agora que a pandemia, a coisa piorou mais ainda.
Pergunta:
Você participava... Daquilo que os estudantes planejavam... Que no sábado, depois da aula, _________?
Resposta:
Não, tinha muito bolo, tinha muito churrasco, e a gente, professores, tínhamos uma coisa nas aulas de sábado: a cada sábado cada professor levava... Por exemplo, um bolo e tinha quarenta e tantos professores, então era para o ano todo e era muita integração. Eu me lembro bem da professora Delse, do professor Denis era... Era outra época, era uma época de otimismo... Sabe quando você tem aquela época aí que... É uma época de fartura, era uma época de muita aula, de muito... E o nosso grupo era bem... Era bem harmônico.
Pergunta:
E o prédio da USCS, como é que estava nesta época?
Resposta:
Então, o prédio da USCS, depois que eles construíram o prédio da comunicação... A gente, ali, estava sempre... Assim, muitas vezes a gente ia lá para o auditório, quando a gente desce a escada, ia comemorar lá... Eu sei que era uma época, assim, bem de integração.
Pergunta:
O auditório ali embaixo, ali no...
Resposta:
Isso! A gente descia lá e tínhamos uma integração muito grande. A gente participava, nós professores, e nós éramos pagos para isso... Nós que fazíamos o vestibular, nós que trabalhávamos no vestibular, e nós trabalhávamos, a equipe de professores, que a gente sempre teve pelo IMES, pela USCS, uma sintonia muito forte, a gente gostava. Aquele anúncio que a USCS tem: ‘Orgulho de ser USCS', era o que a gente tinha, a gente gostava mesmo... Tanto que o vestibular da época era de domingo, e a gente tinha trabalhado de segunda a sábado e a gente ia de domingo também. (...) Era uma integração muito grande. Ai, depois, né... Ah! E o curso chefe sempre foi o curso de administração. O curso de administração, para se ter uma ideia, formava oito, nove, dez turmas a cada ano, e os cursos eram anuais. [60'] Formavam dez turmas, às vezes, e você falava assim, ‘poxa, mas só posso dar 20 horas... ', ‘Ah! Da um jeito, da um jeito'. Depois de 2014, é que houve toda uma restrição de aula aqui.
Pergunta:
E as mudanças que foram acontecendo que te levaram para o EAD?
Respostas:
Então, ai começaram os cursos EAD. Acreditava-se que os cursos EAD era o curso... Era o futuro da.. O futuro da educação. Aí o professor Denis que era... 2007 acho que foi isso, que ele se tornou a pessoa responsável pelo curso, e ele me chamou para eu fazer os roteiros, eu fazia os roteiros da gravação de todos os professores. Eu trouxe lá... Um rapaz que trabalhava no ‘Domingo Espetacular', da Record, o Maurício Donato para ele fazer as gravações, aí ele fazia as gravações e eu fazia para o roteiro. Nós ficamos de 2007 a 2013 nisso. Aí o professor Denis saiu da coordenação do EAD, e nós saímos também.
Pergunta:
Ele trabalhava em várias situações, o professor Denis?
Resposta:
Isso olha o professor Denis me abriu muitos caminhos, o professor Denis é aquela personalidade que nasceu para trabalhar. O Denis, você chegava com ele e ele sempre estava te dando trabalho e te puxando junto. O que... O que ele fez? Quando ele se tornou coordenador do curso de administração, ele viu a necessidade que se tinha de escrever alguns livros. Eu comecei a elaborar os livros, e o Denis era meu revisor ali, ele falava dos capítulos que, embora ele não fosse da área de filosofia, ele tinha uma visão muito boa porque ele já tinha livros escritos também, aí ele me dava as aulas, ele me revisava os livros... Lá no EAD também, o Denis me deu todo suporte lá dentro e depois, que eu trabalhava só na graduação, eu concluí o doutorado em 1998 e comecei a dar algumas aulinhas na capital, que eles tinham criado um tipo de mestrado voltado para Direitos Humanos, e eu sempre gostei disso né, mas o curso não foi para frente. Aí, em 2001, o Denis me chama para ir lá ao mestrado na UNIP, para trabalhar como professor lá do mestrado. E quando ele me chamou e eu até fiquei assim... Porque embora eu desse aula para a administração, o meu forte sempre foi o lado da comunicação, o lado da filosofia. Aí, ele me contratou e os outros professores lá para a UNIP, que o Denis era o coordenador do mestrado lá da UNIP. Quando ele me levou lá, eu senti todo o drama. Chegou, junto com aqueles professores, acho que nós estávamos em dez, e todos de terno, gravata daquele jeito, eu lá, né falei ‘O que eu estou fazendo aqui pô' [risada] Mas aí eu me entrosei lá, o Denis ficou mais alguns anos como coordenador, ele saiu eu continuo até hoje lá. Agora do professor Denis que eu tenho um respeito muito grande, uma gratidão muito grande, ele me abriu várias portas e ele era aquela pessoa assim: ele te cobra, mas ele te dá oportunidade. E ele me cobrava porque, lá no EAD eu trabalhava muito, na administração eu trabalhava muito... Só que ao mesmo tempo em que ele te cobrava, ele que dava oportunidade. A dificuldade que alguns professores tinham com Denis era esse lado, com Denis você não encostava o corpo, tinha que fazer acontecer. Só que ele estava do teu lado que nem ali, quando estava na administração, eu prestei um concurso lá no IMES, para marketing, eu passei lá e eu ia assumir para os alunos marketing, aí ele falou ‘não, Bazanini, professor de marketing tem uma pancada e filosofia? Não, você vai ficar na filosofia'. Então para trabalhar com o Denis a gente tem uma coisa, você tem que compor com ele, mas ao mesmo tempo ele abre várias portas e foi o que ele fez comigo.
Pergunta:
O que significa essa mudança na... O que é esse trabalho no EAD, como que é... Explica um pouco. [1:05']]
Respostas:
Então, o EAD... Agora, uma crítica, para funcionar aqui no Brasil precisa mudar. A forma como é feito o EAD, a educação não suporta. Os alunos precisam ser preparados para o EAD, não é dessa forma, porque se você não tem o presencial... É o que eu falava lá para o Denis quando nós começamos a fazer, a gente gravar com os professores, para que o professor fosse ao EAD muito lá do presencial, você não podia deixar o aluno muito solto, não é da cultura brasileira isso. É diferente, por exemplo... Quando eu estava lá no EAD, fiz algumas pesquisas em relação aos outros países, por exemplo, na Alemanha, a gente tem muitos anos a instrução programada, que seria já uma EAD nos anos 60, eles já tinham... Já tinha um tipo de EAD, mas o que acontece com alemão? O Alemão é disciplinado o brasileiro não é. O brasileiro, para que o EAD dê certo, ele precisa ser conduzido por aquilo, por exemplo, na instrução programada lá do Alemão tem a resposta no final do exercício, o alemão não vai ver resposta, ele vai fazer o exercício depois ele vai lá, e o brasileiro já não, o brasileiro você dá o exercício ele vai para a resposta. Então, quer dizer, a grande dificuldade que eu acho do EAD aqui, como aconteceu também agora na pandemia, com o Home Office, à distância, é a falta de disciplina dos nossos alunos que precisam ser conscientizados disso, tanto que eles estavam dizendo que durante essa época aqui, nós tivemos muita aula espírita, ‘Você tá aí? Você tá aí? Cláudio você tá aí?'... Porque o aluno às vezes liga o computador e desaparece, ele só deixa ligado para ter presença, então a grande dificuldade do ensino à distância, em parte, é mudar a mentalidade do aluno, pelo que eu entendo.
Pergunta:
E você fazia o roteiro de várias disciplinas ou...
Resposta:
Todas elas. Eu fazia aquele roteiro para começar a se pôr em comum com o aluno. Eu pedia o conteúdo do professor e no conteúdo do professor via como ele dava o exercício, como ele faz a pergunta no meio do vídeo, como ele chega diante do... Para não se tornar uma coisa chata, todo objetivo era tornar o EAD atrativo e em algumas disciplinas nós conseguimos, em outras nós tivemos mais dificuldade.
Pergunta:
Era EAD em administração e pedagogia?
Resposta:
Isso. Era em administração e pedagogia. O tempo que eu fiquei lá, que foi de 2006 a 2013, era basicamente em administração. Isso é em administração e pedagogia, o tempo que eu fiquei lá foi de 2006 a 2013 e era basicamente em administração, então aqueles professores... Qual foi o trabalho que eu fiz lá com o Maurício da Record? Adaptar o professor na linguagem da câmera, pois tinha muitos professores excelentes na sala de aula, mas não sabia se relacionar com a câmera. Então, a minha tarefa e do professor Maurício foi essa. Aí depois nós saímos, quando o Denis saiu, nós saímos, então foi isso.
Pergunta:
E você disse que o professor Denis indicou, levou você para a UNIP, como foi isso?
Resposta:
Sim. O professor Denis ajudou, não só a mim, como muitos mestrandos. Eu me lembro de alguns deles, que alguns eu participei da banca, do professor Gaspar, nem sei se ele tá na USCS agora, ele foi orientado do Denis, e o Denis abria muitas as portas. E Denis era assim... Como ele sempre foi muito empreendedor, ele é de empreender, ele quer fazer as coisas acontecerem e ele não mede... Ele não mede o sacrifício, ele não mede esforço para isso não, ele quer fazer acontecer. Ele tem muitos relacionamentos e desses relacionamentos ele abre as portas para muita gente não, só para mim, para os outros professores, se ele ver alguma possibilidade, ele te indica e lá na UNIP foi isso, veja, ele me indicou lá para o curso de administração tanto.... Eu dava aula aqui no curso de administração, mas ele sabia que a minha formação maior era em filosofia e em comunicação, mas apesar disso ele me pôs lá dentro, ele me orientou, ele esteve lá do meu lado, ele me pôs, no começo, na área de estratégia que era um pouco mais voltado para essa área de humanidades... [1:10'] Então ele sempre foi esse empreendedor que também arrumava muitos adversários pelo lado da cobrança dele. O Denis é de cobrar, o Denis era de cobrar porque ele quer fazer acontecer. E agora que eu soube da aposentadoria dele, eu falei até assim ‘eu acho que para a USCS, ela poderia ter aproveitado bem mais o professor Denis por esse lado dele, é um lado empreendedor muito forte. '
Pergunta:
Qual foi o tema da sua tese do doutorado?
Resposta:
Então eu sempre disse para você que eu sempre tive ligação com o meio de comunicação e sempre eu gostei desse lado do transcendental e da religião. O título da minha tese de doutorado foi ‘Globo e Universal tudo a ver: a disputa mercadológica pelo controle do imaginário popular', o que era? A briga da Record, como eu tinha acesso na época a Record e parte da Globo, foram feitas entrevistas com o pessoal da Record com pessoal da Globo e ligado também com a Igreja Universal. Eu peguei aquele episódio de 1995, de 22 de dezembro de 1995, que o Jornal Nacional começou a denunciar o bispo Edir Macedo quando ele falava naquele vídeo ‘OU DÁ, OU DESCE, PEDE!'' não sei o que e tal, então nós comparamos a ideologia da Globo, a retórica da Globo, com a retórica da Universal.
Pergunta:
Foi puxado em...
Resposta:
Foi! E depois, quando eu fui fazer o pós doc, que eu fiz em 2015 na UNIP, aproveitei e fiz sobre o Templo de Salomão. Como que é a ideologia, a retórica em que se esconde a estética atrás do Templo de Salomão. Então você veja, sempre foi na área de que? Sempre na área de comunicação. E tudo, até agora que eu estou na UNIP, o que eu trabalho? Eu trabalho com organizações, que é da administração, mas eu me volto para o terceiro setor, eu me volto para esse pessoal, porque esse lado filosófico, esse lado do humanismo é o que sempre, sempre, sempre eu estudei e é o que eu gosto. A minha dificuldade seria eu trabalhar em um universo muito burocrático, então apesar da administração eu sempre foco nessa linha mais voltada para a sociedade, para o humanismo e etc.
Pergunta:
E hoje você continua dando aula ou não da mais não?
Resposta:
Agora estou com pouquíssimas aulas na USCS, em função da crise só estou com aula em filosofia da comunicação porque não abriu turma de administração e continuo lá na UNIP, continua agora também com o doutorado, fico com o mestrado e o doutorado, e lá eu sou dessa linha de redes voltado para abordagens sociais em redes.
Pergunta:
Perfeito! Tem mais alguma coisa? [Pergunta ao grupo de entrevistadores] Então vamos caminhando para o final. Reduz duas coisas, se você quiser deixar alguma mensagem gravada para o professor Denis...
Resposta:
Então, eu quero. Ao professor Denis eu tenho toda a gratidão, toda a admiração, ele foi meu professor na administração e, como eu disse, um professor muito exigente, mas muito profissional. O Denis não brincava com as coisas, ele sempre quis que os alunos aprendessem. Quando eu voltei depois para a USCS, que eu retomei aquele contrato, agora na condição de colega de trabalho, o que eu tive lá com o Denis? Eu tive todo o apoio, tive muita cobrança, mas tive todo o apoio, inclusive essa inspiração para escrever livros de filosofia... Essa sugestão foi dada pelo Denis. Eu lecionando para a disciplina, e ele me incentivou e ele foi, além de incentivar, ele foi e revisou todos os meus textos. Eu escrevi cinco livros e ele revisou, ele olhava ‘olha, Bazanini, aqui, olha mais aqui' e como ele já era autor de livros, ele conhecia o mecanismo. [1:15'] Então depois ele me levou lá para o EAD, o Denis também me deu um impulso muito grande após o EAD, ele dava muito trabalho para a gente, mas ele sempre foi uma pessoa muito responsável... Muito responsável, profissional e trabalhador. E quando nós chegamos e eu soube da aposentadoria dele (...) é claro que é necessário, pois a vida é assim e a gente passa por isso, mas o Denis foi para a USCS, me parece que cinquenta e tantos anos, cinquenta e dois anos de atuação, aquele que vestiu a camisa da USCS. Mesmo quando a gente voltava, assim quando ele estava na UNIP, eu voltava de carona com ele, e ele sempre preocupado com a USCS, sempre preocupado com novos projetos, com novas formas, sempre preocupado com o êxito do curso. Então, ao professor Denis, além da minha gratidão, quero parabeniza-lo por tudo o que ele fez pela USCS na condição de professor e de coordenador, um excelente colega para todos nós.
Pergunta:
Bazanini, com licença, você conviveu com o Mauro também?
Resposta:
Isso. Com Mauro Neves Garcia também foi outra pessoa ai que quando soubemos da passagem dele, nós ficamos até assim... O Mauro também tinha sido meu professor em mil novecentos e setenta e pouco, de marketing e quando eu voltei para a USCS, foi de uma afinidade muito grande, porque ele tinha também esse interesse nessas coisas transcendentais e parece q ele era de espírita. E a gente conversava muito. O mauro, junto com o Denis, o que o Mauro fez? O Mauro me colocou nas primeiras bancas, ele era da UNISANTANA, trabalhava em varias universidades, trabalhava na São Marcos, na UNISANTANA e foi o primeiro a me levar nas bancas deles, ele me deu as oportunidades de participar dessas bancas e eu recém-doutorado. Ele sempre trabalhou muito e foi uma pessoa, ao lado do Denis, que me abriu muitas portas, foi outra pessoa que quando soubemos da passagem dele, foi um choque para todos.
Pergunta:
E o Mauro Favaretto?
Resposta:
Não, não, o Mauro foi aluno junto comigo. Ah, se teve um... Ah! O Mauro é da minha mesma turma, o Mauro Favaretto, nós nos formamos juntos em administração. Quando... Tanto que ele está no álbum de fotografia junto comigo. Quando eu vi o Mauro ali, ele foi... Até tivemos um contato depois, mas foi um contato não tão próximo como foi com o Denis e com o Mauro, mas é uma pessoa também excepcional.
Pergunta:
E para terminar, você gostaria de deixar alguma mensagem para... De uma forma geral, pensando na sua vida?
Resposta:
Ah, eu gostaria de deixar uma mensagem para a USCS. Eu acho que a USCS agora, ela está em uma fase muito retraída, eu acho que a USCS tem um potencial muito grande e a minha saudade era daqueles tempos antigos. Eu estou sendo saudosista, sabe? Quando não se abre algumas turmas... Pelo lado pragmático, talvez a gente possa entender, tem poucos alunos e tal, mas o que eu estou sentindo é que ela se encolheu nesses últimos anos, principalmente de 2014... Talvez seja mais uma esperança que eu tenha... Eu tenho muita saudade da USCS daquele tempo, e que você tinha aquelas turmas lotada, entrosamento dos professores, era um ambiente muito prospero. E eu estou sentindo agora, por conta até do pró